quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Comissão Gaúcha de Folclore no Eco da Tradição de Novembro

          Reativada, fazendo alterações estatutárias importantes para seu funcionamento, a CGF, tem feito reuniões regularmente e está ativando núcleos pelo interior do estado. A ideia é promover grupos que se preocupem com o folclore local e para fortalecer a Comissão Estadual.
          Ações estão sendo desenvolvidas para atingir o objetivo. A professora Paula Simon Ribeiro e o Presidente, Ivo Benfatto, juntamente com a Professora Neusa Marli Bonna Secchi  estão terminando de preparar um curso de folclore para março de 2016 e, a preferencia, estará voltada àqueles que ativarão núcleos em suas cidades. Por isso fica o convite para estarem atentos ao chamamento para o curso de folclore da Comissão Gaúcha.
          Presença confirmada de antropólogos, folcloristas, musicos, doutores e mestres na área.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Uma homenagem a professora Lilian Argentina Braga Marques


          Lilian Argentina Braga Marques, professora, folclorista, tradicionalista, profunda conhecedora da cultura riograndense; seu conhecimento incontestável e atuação como pesquisadora e docente foi motivo de admiração e respeito por todos que a conheceram e tiveram o privilegio de com ela conviver.
Inteligencia, competência e humildade foram alguns dos traços mais marcantes de seu carater. Sua personalidade forte, decidida e batalhadora grangeou-lhe estima e respeito em todos os momentos de sua vida, em todos os locais onde atuou.

          Professora e supervisora em escolas estaduais exerceu durate décadas funções de relevância  junto a comunidade no litoral norte, fazendo com que cada grupo tomasse consciênciada importância de sua cultura e a valorizasse num continuo processo de transmissão para as futuras gerações.

          Tendo sido transferida para Porto Alegre ingressou no  Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore e como chefe do setor de pesquisa, onde a conheci e tive o privilegio de com ela conviver  por 10 anos. Em 1992,  a convite do Prof. Dr. Atico Villas Boas da Motta, então Presidente da Comissão Nacional de Folclore, iniciou o trabalho de reestruturação da Comissão Gaúcha de Folclore, na época defasada em virtude da idade avançada dos antigos membros da primeira fase da CGF. Desempenhou com raro brilho esta incumbência, vindo a exercer o cargo de Presidente por eleição dos demais membros, sempre advogando a ideia de renovação. Em seu entendimento as diretorias sempre deveriam ser renovadas para que novas ideias e novas forças viessem a se somar na instituição.
Pelo conjunto de sua obra foi merecedora da mais alta condecoração da Comissão Nacional de Folclore, a "Medalha Brasileira Folclorista Emérito". Receberam esta honraria apenas mais quatro ou cinco folcloristas gaúchos e em todo Brasil, menos de 50 pessoas a receberam.

          A homenagem estava prevista para dia 30 de abril de 2006, dia do aniversário da professora, mas o destino nos traiu e ela faleceu no dia 6 do mesmo mês.  A Medalha destinada a ser concedida para pessoas vivas, excepcionalmente foi entregue para a familia postumamente durante a cerimonia do Dia do Folclore do mesmo ano.

          Conviver com Lilian foi um privilegio que muitos tiveram e não perceberam o quanto isto era importante. Quando se tem algo, não se percebe o verdadeiro valor. Foi uma pessoa generosa, simples e objetiva, sempre preocupada com "o outro". Ao viajar com ela por este Rio Grande  aprendi a ser pesquisadora, na pratica tudo que sei sobre pesquisa, coisas fundamentais que não podemos esquecer:
- chegar ao informante como igual, sem titulos ou falares acadêmicos,
- saber escutar o que o informante quer contar e "pescar" nestas informações aquilo que queremos saber,
- vestir-se e comportar-se com simplicidade e identificar-se com o informante.

          Isto e muito mais, Lilian era uma camaleoa, tanto sabia falar a linguagem simples do povo como todo folclorista deveria fazer como fazer uma conferência para uma elite cultural.

          Por tudo que aqui  enumeramos, em nome da  Comissão Gaucha de Folclore e da Fundação Santos Hermann presto uma homenagem de carinho e gratidão.

sábado, 7 de novembro de 2015

Encelências - por Paula Simon Ribeiro

          Encelências, Incelença ou Excelências, o termo varia em  cada região. Consistem em cantos fúnebres entoados à cabeceira dos moribundos,  aos pés dos falecidos ou nos cemitérios na hora final do sepultamento.

          Segundo Câmara Cascudo "Canto entoado à cabeceira dos moribundos ou mortos. Acredita-se que a incelença tem o poder de despertar no moribundo o horror ao pecado, incitando ao arrependimento. É cantada sem acompanhamento instrumental, em uníssono, em serie de 12 versos. Não deve ser interrompida, senão o espirito não alcança a salvação."

          Quando entoadas a cabeceira dos doentes tem como finalidade "ajudar a morrer, ou morrer sem medo", ou seja, ajudar o desenlace, convencer a alma a deixar o corpo físico.

           Quando já falecido é entoada aos pés e clama ao Senhor que receba bem esta alma, geralmente são rezadas doze estrofes.

          No cemitério consiste num canto fúnebre de despedida, é dirigido a Virgem Santíssima, a Jesus, ao a algum santo da devoção do rezador ou do morto.

          É um ritual de introdução portuguesa conhecido em inúmeras localidades no RS e em todo Brasil, atualmente caindo em desuso. Aqui no estado persiste muito raramente em alguma localidade interiorana e praticada por pessoas de idade avançada. Tende a desaparecer.

          Na região nordeste do Brasil são conhecidas varias excelências alem das já citadas, como a "Excelência da hora"  em que o canto cita a hora da morte, "Excelência de Maria" na qual se canta as partes do corpo e as peças de sua roupa. "Excelência da mortalha" entoada enquanto o morto é preparado, “Excelência da despedida" que é cantada no local onde ocorreu o velório (geralmente a residência do morto) até desaparecer o cortejo fúnebre.
Uma crença arraigada do povo é que não se deve contar quantos carros acompanham o cortejo, o numero de carros significaria o numero de anos de vida que a pessoa que contou teria ainda.

          Prof.ª Lilian Argentina registrou no litoral norte na década de 1940 o seguinte canto fúnebre:
          "Uma excelência minha Virgem do Rosário / Duas excelências abriu-se o sacrário / Depois do sacrário aberto, saiu o Senhor fora / A receber est´alma que vai para gloria".

          Outro exemplo recolhido no interior de Osório:
José, José, acende uma luz / na porta do ceu/ Pra iluminar Jesus
José, José, acende duas luzes / na porta do céu / Pra iluminar Jesus

          E assim sucessivamente, três, quatro até completar doze luzes.

          Com o avanço da tecnologia e dos meios de comunicação de massa estes e muitos outros rituais foram aos poucos perdendo espaço.